nem queria falar disso, mas é um triste equívoco crucificar o Bolsonaro pelas declarações recentes dele. como dizia Napoleão, não se interrompe um adversário quando ele está cometendo um erro. ele é consequência, e não causa, do problema de verdade.
o tipo de pensamento que ele expressou é mais frequente na nossa sociedade do que a gente gosta de admitir, e mais ainda do que a gente tem disposição para combater.
ele é o representante de muita gente que pensa do mesmo jeito, e que só não diz o que pensa porque não tem a mesma cara-de-pau.
resguardada a diferença entre coragem e imbecilidade, tem que ter colhão pra ir contra a maré do politicamente correto e assumir preconceitos em público. e o efeito silencioso que isso tem no subconsciente coletivo, catalisado pela perseguição dos que se sentiram ofendidos pelo que ele disse, pode acabar por fazê-lo se tornar um símbolo de resistência para quem alimenta os mesmos valores.
coragem + perseguição = mártir.
vejam bem: não estou defendendo a impunidade. a questão é que protestos e manifestações não punem, antes pelo contrário. punição pra político não é repercussão, é ostracismo. e se a gente não combate a mentalidade das pessoas que o elegem, nada melhora com a cassação dele.
pode ser que o Bolsonaro seja punido, e que isso alivie a nossa indignação, mas se a gente não diz nada quando aquele tio, aquele professor, aquele colega de trabalho ou aquele cara no ponto de ônibus fazem comentários iguais aos que ele fez, se a nossa atitude termina no protesto e não chega no dia-a-dia, nosso Brasil vai continuar reproduzindo e elegendo gente como ele.