segunda-feira, 4 de abril de 2011

tratando chiuauas como lobos

nem queria falar disso, mas é um triste equívoco crucificar o Bolsonaro pelas declarações recentes dele. como dizia Napoleão, não se interrompe um adversário quando ele está cometendo um erro. ele é consequência, e não causa, do problema de verdade.
o tipo de pensamento que ele expressou é mais frequente na nossa sociedade do que a gente gosta de admitir, e mais ainda do que a gente tem disposição para combater.
ele é o representante de muita gente que pensa do mesmo jeito, e que só não diz o que pensa porque não tem a mesma cara-de-pau.
resguardada a diferença entre coragem e imbecilidade, tem que ter colhão pra ir contra a maré do politicamente correto e assumir preconceitos em público. e o efeito silencioso que isso tem no subconsciente coletivo, catalisado pela perseguição dos que se sentiram ofendidos pelo que ele disse, pode acabar por fazê-lo se tornar um símbolo de resistência para quem alimenta os mesmos valores.
coragem + perseguição = mártir.
vejam bem: não estou defendendo a impunidade. a questão é que protestos e manifestações não punem, antes pelo contrário. punição pra político não é repercussão, é ostracismo. e se a gente não combate a mentalidade das pessoas que o elegem, nada melhora com a cassação dele.
pode ser que o Bolsonaro seja punido, e que isso alivie a nossa indignação, mas se a gente não diz nada quando aquele tio, aquele professor, aquele colega de trabalho ou aquele cara no ponto de ônibus fazem comentários iguais aos que ele fez, se a nossa atitude termina no protesto e não chega no dia-a-dia, nosso Brasil vai continuar reproduzindo e elegendo gente como ele.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Mundial...

Ninguém ficou satisfeito com a estréia do Brasil no Mundial. Acho engraçado que a gente reclama bastante do nosso país, e é justamente porque é só isso que a gente faz que ele é do jeito que é. O país, no fim das contas, somos nós, não é?
Daí tudo pára por uma partida de futebol num evento multimilionário acontecendo num país onde 43% da população vive abaixo da linha da pobreza. De repente, as vuvuzelas abafam o ruído distante de Brasília se preparando pra receber um novo presidente, do Oriente Médio e das Coréias à beira da guerra, do fator previdenciário, da tentetiva de intervenção diplomática do Brasil no programa nuclear do Irã, da hidrelétrica em Belo Monte e de qualquer outra coisa que devia reter nossa atenção.
E a anestesia do futebol dura talvez mais do que facilmente se perceba. Fracamente educados que somos, temos a memória treinada pra ser curta e assim evitar que a chateação se prolongue, o que tem o óbvio efeito de nos fazer deixar sempre tudo exatamente como estava antes. A gente reclama do técnico, do juiz, do atacante, do goleiro, e esquece do país.
Mas é sempre assim. Sempre foi. E agora dá pra ver que não é só aqui: a festa do Mundial na África do Sul também os anestesia por lá. De certa forma, é um alívio saber que é mundial.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Eu e o Sistema

Eu, que sempre defendi uma postura de nacionalismo, pela primeira vez na vida tive vontade de ter nascido em outro país, um que fosse civilizado de verdade.

O meu país, infelizmente, ainda é uma colônia de exploradores que não têm o menor respeito por quem não seja importante o suficiente para lhes representar ameaça. É um país cuja cultura está contaminada pela corrupção a tal ponto que as soluções corretas não são sequer consideradas, por serem reputadas inviáveis diante dos conflitos de interesses que podem gerar.

Nesta terça-feira, 02 de Março, o Conselho Federal da OAB anunciou a suspensão da correção das provas da segunda fase do Exame de Ordem, motivada pela suspeita do vazamento das provas, até que decida pelo cancelamento ou não do Exame em reunião colegiada no próximo domingo, dia 7. O caso, infelizmente, não é inédito: o Cespe/UnB, parceiro da OAB na elaboração e aplicação do Exame, tem um vasto histórico de fraudes nas suas provas. A diferença é que dessa vez o Exame de Ordem é unificado, e a decisão do Conselho inevitavelmente afeta todos os candidatos do país.

Dessa vez, a decisão ME afeta.

Tenho que admitir que o altruísmo nunca foi uma qualidade da qual eu pude me orgulhar, mas não existe lado bom para ninguém nessa história. Não estou pensando nos candidatos reprovados, ou nos que teriam ido mal na prova, mas não tenho mesmo que pensar, porque pra eles nada muda. E a decisão da OAB de cancelar o certame só protege a ela própria e ao Cespe, os lados fortes do conflito de interesses. As autoridades do Conselho Federal alegam a necessidade de resguardar a regularidade do Exame, mas o cancelamento é a forma fácil – e segura, para os fraudadores – de fazê-lo.

Não se trata de um concurso, mas de um exame de suficiência: não existe classificação; o benefício de alguns candidatos por meio fraudulento não afeta os outros em nenhum sentido. Naturalmente, a reputação do Cespe, e quem sabe da própria OAB, pode ficar comprometida se a investigação da Polícia Federal for em frente e identificar os responsáveis pela fraude. Daí, contratos importantes, posições políticas e rios de dinheiro se perdem. Por isso, a opção mais óbvia – seguir normalmente a correção das provas e, posteriormente, cassar a inscrição dos candidatos que a PF conseguir provar que se beneficiaram da fraude – nem sequer foi considerada.

No fim das contas, os corruptos seguem impunes, o Cespe/UnB segue contratado pra elaborar algumas das avaliações mais importantes do país e a OAB segue incólume. Eu e os demais 18.719 candidatos do Exame, por outro lado, seguimos inabilitados, nossas vidas estancadas pela ineficiência de todo um sistema que se justifica na preservação da qualidade no acesso à Justiça.

E eu um dia cheguei a acreditar nisso.

domingo, 9 de agosto de 2009

O Preconceito Nosso de Cada Dia

Até tentei não comentar toda essa atenção que o Danilo Gentili chamou ao twittar uma piada que foi logo classificada de racista pelos cyber-militantes de plantão, primeiro porque eu não consigo deixar de pensar que o óbvio objetivo do cara - ora, chamar atenção - está sendo ainda mais endossado pela própria avalanche de críticas, e depois porque a primeira coisa que eu pensei foi "cara, mas esses paulistas são todos preconceituosos, mesmo...".

E, no fundo, o problema de verdade é que é a gente que não sabe lidar com preconceito ainda. Por mais que nós achemos que os negros são ignorantes, que os cariocas são folgados, que os gays são promíscuos, que os baianos são preguiçosos, que os advogados são ladrões, que os argentinos são arrogantes, que os crentes são bitolados e os paulistas preconceituosos, nós somos educados a fingir que temos a mente aberta e ser condescendentes com os outros pra aproveitar a condescendência dos outros com nós mesmos. Porque "preconceito só eles têm; nós temos opinião bem formada sobre as coisas".

Ora, preconceitos todos temos. E o fato de tê-los não é ruim em si mesmo, e sequer evitável: é fruto da condição humana em sociedade. Aí, quando alguém vence a barreira hipócrita de silêncio e fala o que realmente pensa - e o que um monte de gente pensa, na verdade - as pessoas reagem, reclamam e criticam mais pelo medo da constrangedora reação em cadeia que a sinceridade costuma provocar (oh, que perigoso seria se todo mundo começasse a falar verdadeiramente o que pensa!) que por revolta pelas consequências que a manifestação de preconceito causou.

Até o Ministério Público de São Paulo pensou em processar o cara por racismo. Sério, vamos, antes de mais nada, considerar a pouca significância do caso, e depois considerar que o discurso é muito diferente da prática. A diferença entre discriminação e preconceito é que a primeira é a filha rebelde do segundo; é discriminação quando um pai proíbe que a filha loira namore com um negro só por preconceito, por exemplo. E é aí que a coisa fica séria de verdade.

Agora, sejamos francos. Aceitar esmolas de cotas raciais nas universidades públicas em vez de exigir segurança e boa educação de base para as camadas menos favorecidas da sociedade, reclamar de piadas preconceituosas em vez de fazer alguma coisa pra mudar a origem do preconceito está longe, e MUITO, de fazer alguma diferença contra a discriminação.

Eu sou negro e não me ofendo com a piada do Gentili, simplesmente porque não me enxergo no estereótipo que a motivou. E ainda acho que a galera que se ofendeu, direta ou indiretamente, podia trabalhar a auto-estima e rever os auto-preconceitos, fazer diferença pra mudar de vez o preconceito nosso de cada dia.

sábado, 20 de junho de 2009

Vagas Lembranças (e sua falta de utilidade)

Queria me lembrar com mais eficiência das coisas...

Porque tenho a sensação de que aprendi pouco com o muito que vivi. E às vezes a lembrança vem só como sinal de pouca competência.

Não gosto da idéia de ter mais histórias pra contar que morais pra ensinar. Justo eu, que sempre reproduzi e acreditei no clichê que podia aprender alguma coisa com qualquer coisa, não estou confortável em admitir que isso nem sempre é verdade. Ou pior: que talvez seja, mas eu é que não sou tão capaz do aprendizado como gostaria.

Tenho pensado sobre isso porque venho lembrando muito frequentemente de antigos erros que eu repeti, como se nunca tivesse experimentado as consequências deles antes. E isso me dá a inescapável sensação de que não aprendi nada com eles.

Aliás, "nada" talvez seja exagero. Com "não aprender" eu me refiro não ao aprendizado superficial - conceitual - de que algo é certo ou errado, bom ou ruim; me refiro ao aprendizado prático e vital, de como evitar as coisas que, no final das contas, simplesmente não me fazem bem. E isso é essencial. É pra isso que serve a história, não é?

E, talvez por isso mesmo, por saber que eu já sei o bem ou mal que certas coisas me fazem, é que eu me cobro tanto escolhas certas. Ou, se não certas, no mínimo coerentes com tudo o que eu lembro das escolhas anteriores.

Repito pra mim mesmo o conceito auto-condescendente de que ainda sou jovem e tenho tempo pra errar, mas o tempo vai - o tempo ESTÁ - passando. E eu me perdôo cada vez menos...

domingo, 14 de junho de 2009

Ahmadinejad e a Ameaça

Ok. Podem me chamar de paranóico. Mas ninguém me tira da cabeça que a reeleição do Ahmadinejad no Irã tem extrema relevância pra nós, aqui no Brasil.

Sem contar a ameaça ideológica que o cara representa - foi ele que disse que não existem homossexuais no Irã, que criou a lei que institui pena de MORTE pra blogueiros "subversivos", que disse que o Holocausto nunca aconteceu e outras gracinhas mais - ele tem relações políticas - e bélicas - preocupantemente próximas com um vizinho preocupantemente próximo de nós.

Explico: reeleição (pseudo)democrática de ditador populista e perigosamente beligerante em potência petrolífera internacional não lembra nada a vocês? Foi só há três anos atrás, bem ali do lado, na Venezuela.

O que me preocupa tanto é a aparência de liderança regional que esses governos, do Chávez e do Ahmadinejad, assumem diante da comunidade internacional. Para os Estados Unidos - que, apesar de estarem agora sob o comando de um novo, mais inteligente e mais flexível presidente, ainda são a maior potência bélica do mundo - a mesma influência que o Irã tem sobre o Oriente Médio, tem a Venezuela sobre a América Latina.

Pra piorar as coisas, nosso vizinho bolivariano já declarou seu apoio ao muçulmano e, naturalmente, quando Israel, que já deixou bem claro que não vai admitir a existência de armas nucleares em mãos de outros Estados meso-orientais, der o ultimato - ou, pior, a declaração de guerra - ao Irã, os integrantes da OPEP (leia-se Venezuela) terão que se posicionar e isso exigirá de NÓS uma posição que confirme ou confronte a aparente liderança de Chávez na América Latina.

O cancelamento da visita de Ahmadinejad, ainda legitimamente presidente do Irã, ao Brasil já é uma pista da popularidade do governo dele por aqui. Eu acredito realmente que ele seja a última ameaça real ao modo de vida e à democracia ocidental, e já que as eleições falharam, talvez a guerra seja a saída inevitável para nos livrar dele.

Só espero que seja evitável que a guerra chegue tão perto de nós.

Mas, só pra garantir, acho que vou passar uns tempos na Suíça.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Reflexões de segunda-feira chuvosa

Acho que é uma opinião mais ou menos geralizada - e subconscientemente internalizada - que clima nublado não combina com o Rio de Janeiro. Num dia como esse, fica bem claro o quanto tudo (e todo mundo) aqui é sensível à variação do clima... A dinâmica da cidade, a movimentação nas ruas, a interação das pessoas, a própria cor do ambiente, tudo, tudo fica diferente quando não está fazendo sol.

 

Dificilmente faz frio de verdade aqui. O que quer dizer que a falta de sol é, na maioria das vezes, sinônimo de chuva. E quase todo bom-humor - e já é bem difícil achar alguém de bom-humor numa segunda-feira - fica bastante afetado pelos respingos de marquises e guarda-chuvas alheios no caminho para o trabalho...

 

E toda vez que vejo a cidade assim me vem à mente a reflexão a respeito das coisas que nos acometem a todos, igual e inevitavelmente. Pode ser algo benéfico como essa chuva rala e insistente de inverno que cai hoje, ou uma grande catástrofe como as tempestades torrenciais que derrubam casas: por mais que os homens elaborem sistemas sociais pra se diferenciar uns dos outros (uns usam guarda-chuvas retráteis automáticos, outros tentam usar sobras de caixas de papelão para se proteger), há igualdades que nunca poderemos evitar.

 

Sol, chuva, Copas do Mundo, epidemias, Vida, morte. Enquanto nós nos ocupamos em demarcar e reafirmar nossas diferenças, a natureza faz o que pode para nos dar constantes provas de que somos todos iguais.