Eu, que sempre defendi uma postura de nacionalismo, pela primeira vez na vida tive vontade de ter nascido em outro país, um que fosse civilizado de verdade.
O meu país, infelizmente, ainda é uma colônia de exploradores que não têm o menor respeito por quem não seja importante o suficiente para lhes representar ameaça. É um país cuja cultura está contaminada pela corrupção a tal ponto que as soluções corretas não são sequer consideradas, por serem reputadas inviáveis diante dos conflitos de interesses que podem gerar.
Nesta terça-feira, 02 de Março, o Conselho Federal da OAB anunciou a suspensão da correção das provas da segunda fase do Exame de Ordem, motivada pela suspeita do vazamento das provas, até que decida pelo cancelamento ou não do Exame em reunião colegiada no próximo domingo, dia 7. O caso, infelizmente, não é inédito: o Cespe/UnB, parceiro da OAB na elaboração e aplicação do Exame, tem um vasto histórico de fraudes nas suas provas. A diferença é que dessa vez o Exame de Ordem é unificado, e a decisão do Conselho inevitavelmente afeta todos os candidatos do país.
Dessa vez, a decisão ME afeta.
Tenho que admitir que o altruísmo nunca foi uma qualidade da qual eu pude me orgulhar, mas não existe lado bom para ninguém nessa história. Não estou pensando nos candidatos reprovados, ou nos que teriam ido mal na prova, mas não tenho mesmo que pensar, porque pra eles nada muda. E a decisão da OAB de cancelar o certame só protege a ela própria e ao Cespe, os lados fortes do conflito de interesses. As autoridades do Conselho Federal alegam a necessidade de resguardar a regularidade do Exame, mas o cancelamento é a forma fácil – e segura, para os fraudadores – de fazê-lo.
Não se trata de um concurso, mas de um exame de suficiência: não existe classificação; o benefício de alguns candidatos por meio fraudulento não afeta os outros em nenhum sentido. Naturalmente, a reputação do Cespe, e quem sabe da própria OAB, pode ficar comprometida se a investigação da Polícia Federal for em frente e identificar os responsáveis pela fraude. Daí, contratos importantes, posições políticas e rios de dinheiro se perdem. Por isso, a opção mais óbvia – seguir normalmente a correção das provas e, posteriormente, cassar a inscrição dos candidatos que a PF conseguir provar que se beneficiaram da fraude – nem sequer foi considerada.
No fim das contas, os corruptos seguem impunes, o Cespe/UnB segue contratado pra elaborar algumas das avaliações mais importantes do país e a OAB segue incólume. Eu e os demais 18.719 candidatos do Exame, por outro lado, seguimos inabilitados, nossas vidas estancadas pela ineficiência de todo um sistema que se justifica na preservação da qualidade no acesso à Justiça.
E eu um dia cheguei a acreditar nisso.
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