É segunda-feira. E eu odeio segundas-feiras. Meu final de semana ficou bem longe de ter sido um dos melhores e eu acordei com uma vontade quase irresistível de não acordar. A despeito de tudo, eu preciso me levantar: nessa urbanidade pós-moderna, tudo é urgente.
Procuro em todos os campos de um eu recém-acordado um mínimo de disposição, e nada. Um senso de dever, muito mais que a força da minha vontade, é o que me impele a começar o dia.
Com movimentos semi-automáticos numa câmera lenta desajeitada, consigo cumprir meu ritual matinal e me preparar, precariamente, ainda, pra sair de casa. Respiro fundo, ponho meus óculos de sol, os fones do iPod no ouvido, e saio.
Apesar da indisposição, vou fazendo o caminho de casa até o trabalho sem incidentes de maior relevância. Vou pensando no trânsito, em chegar na hora, em arrumar minha mesa no trabalho, em almoçar num restaurante diferente, no trabalho da faculdade que eu ainda não fiz e... quase súbito, tudo pára.
Por mais vezes que eu tenha passado por este mesmo lugar, por mais vezes que eu já tenha visto este exato mesmo cenário, o amanhecer no Aterro sempre me deslumbra. Despretensioso, curvilíneo, inignorável, carioca, o Pão de Açúcar magnanimamente aceita ser por mais um dia, estar por mais um dia.
E me inspira.
De repente, a segunda-feira já não parece tão ruim assim.