quarta-feira, 16 de junho de 2010

Mundial...

Ninguém ficou satisfeito com a estréia do Brasil no Mundial. Acho engraçado que a gente reclama bastante do nosso país, e é justamente porque é só isso que a gente faz que ele é do jeito que é. O país, no fim das contas, somos nós, não é?
Daí tudo pára por uma partida de futebol num evento multimilionário acontecendo num país onde 43% da população vive abaixo da linha da pobreza. De repente, as vuvuzelas abafam o ruído distante de Brasília se preparando pra receber um novo presidente, do Oriente Médio e das Coréias à beira da guerra, do fator previdenciário, da tentetiva de intervenção diplomática do Brasil no programa nuclear do Irã, da hidrelétrica em Belo Monte e de qualquer outra coisa que devia reter nossa atenção.
E a anestesia do futebol dura talvez mais do que facilmente se perceba. Fracamente educados que somos, temos a memória treinada pra ser curta e assim evitar que a chateação se prolongue, o que tem o óbvio efeito de nos fazer deixar sempre tudo exatamente como estava antes. A gente reclama do técnico, do juiz, do atacante, do goleiro, e esquece do país.
Mas é sempre assim. Sempre foi. E agora dá pra ver que não é só aqui: a festa do Mundial na África do Sul também os anestesia por lá. De certa forma, é um alívio saber que é mundial.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Eu e o Sistema

Eu, que sempre defendi uma postura de nacionalismo, pela primeira vez na vida tive vontade de ter nascido em outro país, um que fosse civilizado de verdade.

O meu país, infelizmente, ainda é uma colônia de exploradores que não têm o menor respeito por quem não seja importante o suficiente para lhes representar ameaça. É um país cuja cultura está contaminada pela corrupção a tal ponto que as soluções corretas não são sequer consideradas, por serem reputadas inviáveis diante dos conflitos de interesses que podem gerar.

Nesta terça-feira, 02 de Março, o Conselho Federal da OAB anunciou a suspensão da correção das provas da segunda fase do Exame de Ordem, motivada pela suspeita do vazamento das provas, até que decida pelo cancelamento ou não do Exame em reunião colegiada no próximo domingo, dia 7. O caso, infelizmente, não é inédito: o Cespe/UnB, parceiro da OAB na elaboração e aplicação do Exame, tem um vasto histórico de fraudes nas suas provas. A diferença é que dessa vez o Exame de Ordem é unificado, e a decisão do Conselho inevitavelmente afeta todos os candidatos do país.

Dessa vez, a decisão ME afeta.

Tenho que admitir que o altruísmo nunca foi uma qualidade da qual eu pude me orgulhar, mas não existe lado bom para ninguém nessa história. Não estou pensando nos candidatos reprovados, ou nos que teriam ido mal na prova, mas não tenho mesmo que pensar, porque pra eles nada muda. E a decisão da OAB de cancelar o certame só protege a ela própria e ao Cespe, os lados fortes do conflito de interesses. As autoridades do Conselho Federal alegam a necessidade de resguardar a regularidade do Exame, mas o cancelamento é a forma fácil – e segura, para os fraudadores – de fazê-lo.

Não se trata de um concurso, mas de um exame de suficiência: não existe classificação; o benefício de alguns candidatos por meio fraudulento não afeta os outros em nenhum sentido. Naturalmente, a reputação do Cespe, e quem sabe da própria OAB, pode ficar comprometida se a investigação da Polícia Federal for em frente e identificar os responsáveis pela fraude. Daí, contratos importantes, posições políticas e rios de dinheiro se perdem. Por isso, a opção mais óbvia – seguir normalmente a correção das provas e, posteriormente, cassar a inscrição dos candidatos que a PF conseguir provar que se beneficiaram da fraude – nem sequer foi considerada.

No fim das contas, os corruptos seguem impunes, o Cespe/UnB segue contratado pra elaborar algumas das avaliações mais importantes do país e a OAB segue incólume. Eu e os demais 18.719 candidatos do Exame, por outro lado, seguimos inabilitados, nossas vidas estancadas pela ineficiência de todo um sistema que se justifica na preservação da qualidade no acesso à Justiça.

E eu um dia cheguei a acreditar nisso.